
Na mitologia grega, Perséfone era uma moça que atraía muitos homens, a ponto de rivalizar com Afrodite por causa disso. Borogodó assim falta à Perséfone da teledramaturgia brasileira, interpretada pela atriz Fabiana Karla na novela "Amor à vida". Virgem aos 37 anos, a personagem é o retrato de uma mulher em extinção na vida real. Em um país onde meninas iniciam a vida sexual entre 16 e 17 anos, em média — segundo pesquisas do governo federal —, aquelas que se mantêm intocadas por mais tempo são alvos fáceis de pressões. É aí que a virgindade se torna um inconveniente à saúde psicológica.
Para o terapeuta sexual Arnaldo Risman, fazer sexo só para ceder às insistências alheias é meio caminho andado para uma frustração.
— Ter a primeira vez é um processo que deve ser de dentro para fora. É questão de ter maturidade para escolher o parceiro certo e lidar com a ansiedade, em uma sociedade na qual a sexualidade está sendo banalizada, e a virgindade se tornou algo ridículo — analisa Risman.
Boa parte da angústia ligada à primeira experiência sexual se deve ao fato de a perda da virgindade ser considerada um rito de passagem para o mundo adulto, afirma a sexóloga Laura Müller:
— Pode ser que algumas mulheres na situação da Perséfone não se sintam adultas completas, por isso ficam enlouquecidas para ter a primeira vez, como a personagem.
Sentir-se madura suficiente para iniciar a vida sexual pouco tem a ver com a idade. Mesmo uma pessoa mais velha pode não estar preparada para o momento, o que é absolutamente normal, dizem os especialistas.
— O problema é que as pessoas transam sem estar prontas para as consequências. É preciso entender que se está indo para um ato sem garantias do depois — alerta Arnaldo Risman, sobre a possibilidade de a experiência ser boa ou ruim. — Por isso, o melhor é não fantasiar tanto, porque o perfeito não existe.
Além disso, manter-se casta até mais tarde não representa riscos à saúde, como chegou a dizer Patrícia (Maria Casadevall) à amiga Perséfone.
— Não há qualquer doença ou alteração no corpo relacionadas à virgindade — garante a ginecologista Vera Fonseca, presidente da Associação de Ginecologia do Rio de Janeiro.